A descoberta do Buda – É doce ser livre

Sutra: Olhe para dentro – a elevação e a queda. Que felicidade! Como é doce ser livre!

Osho: Buda traz uma visão totalmente nova da meditação ao mundo. Antes de Buda, meditação era algo que você tinha que fazer uma ou duas horas por dia, uma hora de manhã, uma hora à noite, e isso era tudo. Buda deu uma interpretação totalmente nova a todo o processo de meditação. Ele disse: Essa espécie de meditação que vocês fazem – de uma hora de manhã, uma hora à noite –, vocês podem fazer cinco vezes, quatro vezes por dia; ela não tem muito valor. Meditação não é algo que você possa fazer separado da sua vida, só por uma hora ou quinze minutos. Meditação tem que se tornar sinônimo da sua vida – tem de ser como a respiração. Você não pode respirar uma hora de manhã e uma hora à noite, caso contrário, a noite nunca virá. Ela tem de ser algo como a respiração: mesmo enquanto você está dormindo, a respiração continua. Você pode cair em coma, mas a respiração continua.

Buda diz que a meditação tem de se tornar um fenômeno constante; somente assim ela pode transformá-lo. E ele desenvolveu uma nova técnica de meditação.

Sua maior contribuição para o mundo é a vipassana; nenhum outro professor deu um presente tão maravilhoso ao mundo. Jesus é belo, Mahavira é belo, Lao Tzu é belo, Zaratrusta é belo, mas a contribuição deles, comparada a de Buda, não é nada. Mesmo que todos sejam postos juntos, a contribuição de Buda ainda é maior, porque ele deixou um admirável método científico – simples, porém tão penetrante que, uma vez que você se sintonize com ele, ele se torna um fator constante em sua vida.

Depois disso você não precisa fazê-lo – você só tem de fazê-lo no início. Depois que você pega o jeito, ele permanece com você; você não precisa mais fazê-lo. Daí em diante, seja o que for que você esteja fazendo, ele está presente. Ele se torna uma tela de fundo, um plano de fundo para sua vida. Você está andando, mas anda meditativamente. Você está comendo, mas você come meditativamente. Você está dormindo, mas você dorme meditativamente. Lembre-se, até a qualidade do sono de um meditador é totalmente diferente de um não-meditador. Tudo se torna diferente, porque entrou em cena um novo fator, que muda toda a gestalt.

Vipassana simplesmente quer dizer “observar a respiração”, olhar para sua respiração. Ela não é como o pranayama do yoga. Não se trata de imprimir outro ritmo à respiração, com respiração profunda ou respiração rápida. Não, ele não muda em nada sua respiração – ele não tem nada a ver com o modo de você respirar. A respiração é somente usada como um artifício para observar, porque ela é um fenômeno constante em você. Você pode simplesmente observá-la, e ela é o mais sutil dos fenômenos. Se você conseguir observar sua respiração, então será fácil para você observar seus pensamentos.

Uma contribuição extremamente importante de Buda foi a descoberta da relação entre respiração e pensamento. Ele foi o primeiro homem em toda a história da humanidade que tornou absolutamente claro que a respiração e o pensamento estão profundamente relacionados. A respiração é a parte corporal do pensamento e o pensamento é a parte psicológica da respiração. Eles não estão separados, são dois aspectos da mesma moeda. Ele é o primeiro homem que fala de corpomente como uma unidade. Ele fala pela primeira vez sobre o homem como um fenômeno psicossomático. Ele não fala sobre corpo e mente, ele fala sobre corpomente. Eles não são duas coisas diferentes; portanto, nenhum “e” é necessário para juntá-los. Eles não são duas coisas diferentes; portanto, nenhum “e” é necessário para juntá-los. Eles já são uma coisa só – corpomente – nem mesmo um hífen é necessário: corpomente é um fenômeno. E cada processo corporal tem sua contraparte na sua psicologia e vice-versa.

Os meditadores constataram um fato: quando a mente cessa totalmente, a respiração também cessa. E, então, surge um grande medo. Não tenha medo – muitos meditadores têm me relatado: “Nós ficamos com muito medo, muito amedrontados, porque, de repente, percebemos que a respiração tinha parado”. Naturalmente a pessoa pensa que, quando a respiração pára, a morte está próxima. É só uma questão de segundos; você está morrendo. A respiração pára na morte; a respiração também pára na meditação profunda. Desse modo, a meditação e a morte têm algo em comum: em ambas, a respiração pára.

Por esse motivo, se um homem conhece a meditação, ele também conheceu a morte. Eis porque o meditador fica livre do medo da morte: ele sabe que a respiração pode parar e, ainda assim, ele continua existindo. Respiração não é vida: a vida é um fenômeno muito maior. A respiração é somente uma conexão com o corpo. A conexão pode ser cortada – isso não significa que a vida tenha terminado. A vida ainda está presente: a vida não termina só com o desaparecimento da respiração.

Buda diz: Observe sua respiração; deixe-a normal, como ela é. Sentando-se silenciosamente, observe sua respiração. A postura sentada também ajudará; a postura de Buda, a postura de lótus, é de grande ajuda. Quando sua coluna está ereta e você está sentado na postura de lótus, com as pernas cruzadas, sua coluna fica alinhada com as forças gravitacionais, e o corpo fica no seu estado mais relaxado. Deixe a coluna ficar ereta e o corpo ficar solto, sustentado pela coluna – não tenso. O corpo deve ficar solto, relaxado, e a coluna ereta; assim, a gravidade tem a menor força de tração sobre você.

Por essa razão, a postura de lótus é algo valioso. Ela não é somente um fenômeno corporal; ela afeta a mente, ela muda a mente. Sentar-se na postura de lótus – o mais importante é que sua coluna fique ereta e faça um ângulo de noventa graus com a terra. Esse é o ponto em que você é capaz de ficar mais inteligente, mais alerta e o menos adormecido possível.

Então observe sua respiração, a respiração natural. Você não precisa respirar profundamente. Não mude a respiração; simplesmente observe-a como ela é. Mas você se surpreenderá com uma coisa; no momento em que você começa a observar, ela muda – porque até mesmo o fato de observar é uma mudança e a respiração não é mais a mesma.

Ligeiras mudanças em sua consciência imediatamente afetam sua respiração. Você pode ver por si mesmo – sempre que observar, você verá que sua respiração fica um pouco mais profunda. Se ela ficar assim por conta própria, tudo bem, mas você não faz isso por vontade própria. Ao observar a respiração, lenta, muito lentamente, você se surpreenderá ao ver que, à medida que ela fica mais serena e calma, sua mente também fica serena e calma. E, se observar a respiração, você é capaz de observar a mente.

E esse é apenas o começo, a primeira parte da meditação, a parte física. A segunda parte é psicológica. Você passará a observar as coisas mais sutis na sua mente – pensamentos, desejos, lembranças.

E, à medida que você for mais fundo no testemunhar, um milagre começa a acontecer: à medida que você fica vigilante, cada vez menos tráfego acontece na mente, cada vez mais e mais serenidade, silêncio; cada vez mais e mais espaços de silencio, mais e mais intervalos. Os momentos passam e você não cruza com um único pensamento. Lenta, lentamente, passam-se minutos, passam-se horas…

E há uma certa aritmética nisso tudo: se você conseguir ficar absolutamente vazio durante 48 minutos, nesse mesmo dia você se tornará iluminado, nesse mesmo instante você se tornará iluminado. Mas não é uma questão de fazer algum esforço. Não fique olhando para a observação, porque, a cada vez que você olha, um pensamento vem. Você terá novamente de contar desde o comecinho; você volta à estaca zero. Não há nenhuma necessidade de você marcar o tempo.

Raoni Duarte: Olhe para dentro – veja quanta alegria, quanta prosperidade, quanta paz… observe todos sentimentos positivos que existem dentro de você.

Olhe para dentro – veja quanta raiva, quanto medo, quanto ciúme… observe todos sentimentos negativos que existem dentro de você.

Independentemente do caminho que você faça, algum dia você chegará ao autoconhecimento. E o verdadeiro autoconhecimento só é possível se o olhar realmente for para dentro, ou seja, se for acompanhado da autorresponsabilidade. Enquanto você não compreender quer é o protagonista da própria vida, que é o responsável pela situação em que se encontra, seu olhar estará fixado exatamente no lado oposto de onde deveria estar.

Então quando você inicia o processo de autoconhecimento, quando vira um objeto de estudo de si próprio, você começa a enxergar todas as suas sombras. E quanto mais você vai se aprofundando na observação, quanto mais você medita, mais consciente das consequências das suas sombras no seu dia a dia você vai se tornando.

E é exatamente desse momento mágico que Buda está se referindo. Por mais que olhar para as sombras possa lhe trazer um certo sofrimento, quando você consegue enxergar que foram elas que causaram todo o “mal” que você já experimentou, que o sofrimento externo nada mais é que reflexo do sofrimento interno, uma imensa felicidade surgirá. E essa felicidade é oriunda da certeza que você é a fonte de tudo que acontece na sua vida; você é o céu, você é o inferno, você é tudo que sua consciência for capaz de imaginar.

Então não importa se o que você tem criado é o que convencionamos chamar de mal, de negativo, o que importa é que você é capaz de criar tudo o que quiser.

E somente esse estado de consciência é que trará a verdadeira liberdade. Quando você compreende que você e a Fonte são Um, quando compreende que todo o amor já está disponível dentro de você, então você não precisa de uma outra pessoa para se sentir feliz, a sua consciência já o basta. Você não precisa da aceitação de ninguém para ser feliz, a sua consciência já o basta.

Que felicidade! Como é doce ser livre!

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