Sutra: A morte surpreende o homem que, tonto e distraído pelo mundo, importa-se somente com seu rebanho e com seus filhos. A morte o leva embora como uma enchente leva uma aldeia adormecida.
Osho: Os grandes avanços da medicina nos dão a ideia de que vamos viver para sempre. A medicina tem certamente nos ajudado a viver um pouco mais do que antes, mas isso simplesmente significa um pouco mais: a mesma infelicidade, o mesmo desejo, a mesma luxúria, a mesma servidão.
A medicina pode ser capaz de estender a vida. Parece muito possível agora que homem possa começar a viver mais que cem anos em média. Há quem pense que as pessoas podem viver pelo menos trezentos anos muito facilmente. Mas qual é a finalidade? Quer você viva setenta anos ou setecentos anos, você será a mesma pessoa estúpida. Na verdade, em setecentos anos, sua estupidez crescerá muitíssimo! E, se a morte for adiada por setecentos anos, quem se importa? Ela não vai acontecer tão cedo… e a humanidade não tem percepção suficiente para divisar tão longe.
Nós vivemos cercados de coisas pequenas. Vemos somente até aqui, só um pouquinho adianta, o bastante para andar. Setecentos anos… Isso fará as religiões desaparecerem da face da terra, porque o homem não é tão inteligente que possa ficar ciente da morte se a morte for adiada por setecentos anos. Ele não é nem mesmo bastante inteligente para vê-la após setenta anos! Que dizer de setecentos anos!
Tenho visto pessoas com setenta anos e ainda assim nada interessadas em meditação. Estranho, muito estranho. Eu não posso acreditar. Um homem de setenta anos ainda não interessado em meditação!? Isso simplesmente quer dizer que ele ainda não é capaz de ver a morte, e a morte está muito próxima. A qualquer momento, ela acontece.
Buda quer que você se lembre da morte continuamente. Não pense que ele é pessimista. Não pense que ele é obcecado pela morte – não, absolutamente não. Ele simplesmente quer que você se lembre da morte, de modo que a espada da morte, suspensa sobre você, o mantenha consciente, alerta.
Raoni Duarte: Morrer não é perder o seu corpo físico, não é fazer a passagem para uma dimensão não material, morrer é viver a vida sem a consciência de que ela é eterna.
Estude em um bom colégio, faça uma boa universidade, tenha um bom emprego, ganhe bastante dinheiro, constitua família e tenha um final de vida tranquilo. Esse é o plano padrão vigente na sociedade.
E a pergunta a ser feita sobre ele é: “Ok, e depois da morte, o que eu faço?”
O plano é muito bom, explica direitinho o que você tem que fazer, você nem mesmo precisa pensar, é só seguir o que todos fazem que tudo ficará bem. Mas ele vai só até um determinado ponto, dali para frente, ele não fornece informação nenhuma.
E por mais que falar sobre a morte seja um tabu, por mais que seja um incomodo, em algum momento você terá que iniciar essa reflexão. E quando eu digo pensar sobre a morte não é no sentido de pensar em como você irá morrer, de que forma seu corpo físico irá perder a vida. Não, o que eu quero dizer é que é preciso pensar nos próximos passos, no que você fará depois que for para outra dimensão.
Então independentemente da crença que você tenha, você terá que pensar no pós morte, você precisará de um plano de ação. Seja no céu, seja no inferno, seja com 72 virgens, não importa, para algum lugar você irá e terá que interagir com ele. O que eu estou querendo dizer é que, em algum momento, você se dará conta que não pode mais ser pego de surpresa pela morte.
Quando Buda diz tonto e distraído, ele quer dizer uma pessoa que está presa a materialidade, que acredita que somente a terceira dimensão existe. E é exatamente isso que a materialidade é: uma distração. Não que ele não seja real, tudo é real, mas acreditar que a matéria, o estado reduzido do vácuo quântico que cria a sensação de materialidade, seja a realidade em si só, não compreender que tudo é uma onda vibrando em uma determinada frequência, é pura distração – é ilusão.
Então se você permanecer tonto e distraído, preso a ilusão da matéria, você entrará no apego a coisas e pessoas. Quando você descarta suas vidas passadas e a vida pós morte, sua atual encarnação se torna o tudo o que existe para você. Sua família se torna a coisa mais importante do mundo, seus amigos se tornam a coisas mais importantes do mundo, seus bens se tornam as coisas mais importantes do mundo – você se apega a tudo e todos.
E não que sua família não seja importante, não que seus amigos não sejam importantes, não que seus bens não sejam importantes, nada disso.
O que eu estou querendo dizer é que é preciso compreender que a família é o que podemos chamar de teatro arquetípico com o propósito de reaprendermos o amor incondicional.Se fôssemos pensar a realidade em termos de família, nós seríamos todos irmãos e Deus, o Todo, seria o Pai/Mãe. E observe o detalhe: Deus é Pai/Mãe, Ele não é nem masculino nem feminino, Ele É masculino/feminino.
Então para que os irmãos reaprendessem a se amar incondicionalmente, foram criados os arquétipos de pai, mãe, filho, irmão, amigo, etc. O que eu quero dizer é que a mãe de hoje foi seu irmão em uma outra vida, foi seu marido em uma outra. Assim como seu irmão já foi seu filho, seu filho já foi seu amigo e por aí vai. Nós estamos encarnando na terra há milhares de anos, nós já nos alternamos nas posições diversas vezes.
Então enquanto você não compreender que seus pais nunca desaparecerão, que seus filhos nunca desaparecerão, que seus amigos nunca desaparecerão, que você nunca desaparecerá, que tudo é uma questão de dimensões e que a vida é a única realidade que existe, você irá cair na tentação do apego.
Assim como é preciso compreender que seus bens materiais são úteis, eles proporcionam a você uma passagem pela terceira dimensão com conforto, com qualidade de vida. Mas eles só possuem utilidade na matéria, ou seja, quando você fizer a passagem, quando der continuidade a vida em uma dimensão não material, tudo que foi conquistado em termos de matéria não terá serventia nenhuma.
O que Buda quer dizer nesse sutra é: “Esteja preparado para morte”. E estar preparado para morte é justamente compreender que a vida é eterna, que só existe vida.
E quando você for capaz de entrar no eterno continuum, quando for capaz de viver no agora, você entrará em ressonância com a sua missão, o seu propósito. E quando isso acontecer, não importa a dimensão que você esteja, encarnado ou desencarnado, na terra ou em outro planeta, você será uma manifestação do amor incondicional.
Busque conhecimento, emita amor, seja luz!