Sutra: Ele não se deixa ficar com aqueles que têm um lar nem com aqueles que se extraviaram. Sem querer nada, ele viaja sozinho.
Osho: Na Índia, as pessoas estão divididas em duas categorias – trata-se de uma tradição. Era assim no tempo de Buda também. É uma divisão muito antiga. Buda está tentando fazer uma distinção. Ele está tentando fazer dos seus discípulos uma terceira categoria – as velhas categorias são duas. A primeira é a mundana, do chefe de família, daqueles que têm um lar. Eles são chamados de chefes de família pela simples razão de que vivem na falácia da segurança, da proteção – uma proteção que eles pensam que vem por meio do dinheiro, do poder, do prestígio, uma proteção que eles pensam que vem dos relacionamentos. A esposa acha que está a salvo com o marido, o marido acha que está a salvo com a esposa, os pais acham que estão a salvos com os filhos. A proteção é enganosa, porque nem a família nem o dinheiro nem nada mais deste mundo pode protegê-lo da morte.
Quando a morte vem, ela despedaça tudo; ela despedaça todos os seus castelos de areia. O chefe de família vive numa espécie de mundo de sonho, um mundo de suas próprias projeções. Esse mundo não é verdadeiro, não corresponde à realidade: é a projeção dele próprio. A esposa acha que o marido é sua segurança e o marido acha que a esposa é sua segurança. Ora, ambos estão inseguros. Como podem duas pessoas inseguras dar segurança uma à outra? Duas pessoas inseguras unidas tornam-se duplamente inseguras, mas criou-se uma falácia. Esta é a primeira categoria, o grihastha, o chefe de família.
E a segunda categoria é daqueles que renunciaram à primeira categoria, que foram para o outro extremo – que não vivem em casas, que não vivem em família, que não ganham dinheiro, que nem mesmo tocam em dinheiro, que foram exatamente para o extremo oposto. Eles são conhecidos como saniasins. Eles costumam andar pelo país, em pequenos ou grandes grupos.
Mas Buda diz: “Você abandonou uma família pequena e agora você faz parte de uma multidão maior – vocês se tornaram uma outra família. Nada mudou. Primeiramente, você pensou que a família pequena era sua segurança; agora, você acha essa multidão de monges é sua segurança, mas a velha ideia de segurança ainda persiste”.
Ele diz que ser um saniasin significa aceitar a insegurança natural da vida. Essa própria aceitação é o sânias – aceitar que “eu nasci sozinho e morrerei sozinho, e, entre essas duas solitudes, todas as ideias de estar junto com alguém são simplesmente fantasias, a pessoa vive sozinha, a pessoa morre sozinha.
A ênfase de Buda recai muito mais no fato da sua solitude: ele quer que você se torne ciente dela. Uma vez que esteja ciente dela, você ficará surpreso com a beleza, com a alegria dela. Você não ficará assustado; você se regozijará com ela, porque há uma liberdade, há um êxtase, há uma pureza e uma inocência nela. E por que ansiar por segurança?
A vida é insegura por natureza; assim, trata-se de simples lógica: os que querem ser mais vivos têm de viver na insegurança. Quanto maior a insegurança, maior será sua vivacidade; quanto maior a falaciosa, a suposta segurança, menor será a vivacidade.
Eis por que você tantas pessoas mortas no mundo, quase mortas, pela simples razão de que elas ficaram muito ligadas à ideia de segurança. E quanto mais morto você fica, mais seguro você está. Não faça nada que possa criar alguma insegurança, permaneça confinado ao familiar, jamais vá além dos limites. Você nunca saberá do êxtase de explorar o desconhecido e o incognoscível.
De acordo com Buda, ambas as categorias se tratam das mesmas pessoas. É claro, elas estão em extremos e parecem opostas umas às outras, mas não se deixe enganar. Elas não são realmente opostas, elas descobriram tipos diferentes de segurança.
Sem querer nada, ele viaja sozinho – o verdadeiro saniasin não tem nenhum desejo, nem mesmo o desejo pela vida; desse modo, ele não tem medo da morte. Ele não tem nenhum desejo neste mundo nem no outro; desse modo, ele não está interessado em criar todas essas espécies de proteções à sua volta. Ele não está interessado. Ele pode ficar sozinho, completamente sozinho. Ele não está tentando ser engenhoso e esperto com a existência; ele confia na existência. Ele pode ver que o chefe de família está vivendo numa projeção, num mundo projetado por ele mesmo; e os supostos monges e freiras estão vivendo numa outra projeção, mas, outra vez, trata-se de um mundo projetado. Ele anda sozinho – isso não tem de ser apenas um ato exterior, tem de ser um sentimento interior também.
Estar só é a coisa mais essencial para um meditador – viver a solitude, sentar-se silenciosamente e simplesmente ser você mesmo, simplesmente ficar consigo mesmo, sem ansiar por alguma companhia, sem ansiar pelo outro. Desfrute seu ser, desfrute sua respiração, desfrute sua pulsação. Desfrute o ajuste interior, a harmonia. Desfrute simplesmente porque você existe e fique absolutamente silencioso nesse desfrutar.
Raoni Duarte: Todos nós temos nossos guias, mentores, nossas famílias de alma que sempre estão conosco, olhando por nós. É assim que funciona no Todo: a cada passo evolutivo que você der, a cada hertz que você aumentar na sua vibração, você estará habilitado a ajudar um irmão que está passando por uma situação que você já conseguiu superar. A colaboração, a cooperação, a ajuda, são os mecanismos da evolução do Todo.
Acontece que por mais que você possa ser ajudado, por mais que você possa ter acesso a muitas informações, ninguém será capaz de se iluminar por você – essa é uma missão completamente individual.
E você pode ter um mestre, um guru de estimação, e passar vinte e quatro horas por dia com ele. Você irá comer da mesma comida que ele, irá beber da mesma água, irá dormir sob o mesmo teto, e de quebra, irá vê-lo sendo um mestre o tempo inteiro ao seu lado e, mesmo assim, isso não garante que você irá acordar. Independentemente do cenário externo, a iluminação tem que ser um desejo seu, fruto do seu estado de consciência, ela só pode vir de dentro.
Então se você quer se tornar realmente um buscador espiritual, você terá que estar consciente que ajuda não irá faltar, mas que a responsabilidade é somente sua. Em última instância, é você com você mesmo, ninguém será capaz de sentir-se Deus por você.
“Sem querer nada, ele viaja sozinho”.
O que Buda quer dizer com viajar sozinho não está relacionado a se isolar, a solidão. E não que essa não seja uma boa estratégia, ficar sozinho, ter tempo para o silêncio, é fundamental no processo de autoconhecimento. Mas o que Buda quer dizer com o viajar sozinho é: faça as suas próprias escolhas, viva a sua verdade, vá por você.
Um Buda não é nem de direita nem de esquerda. Ele observa a direita, ele observa a esquerda, e segue o caminho do meio. A direita se opõe à esquerda e, a esquerda, se opõe à direita, já um Buda, não se opõe a ninguém. Para se opor, primeiro, você precisa escolher um lado, o certo, logo, você estará identificado com o julgamento, com o certo ou errado. E um Buda está identificado com o amor incondicional, com o não-julgamento.
Aqueles que tem um lar, são aqueles que se enquadraram no sistema, que se identificam com a forma de pensar do status quo. Então o que eles buscam, é mais do que o sistema pode dar.
Já os que se extraviaram, são os opositores. E a oposição vem do simples desejo de se opor, eles não estão vivendo suas verdades, eles estão simplesmente vivendo o contrário do que um monte de gente está vivendo. Eles não estão preocupados em criar o novo, o foco, é negar o que já existe.
Então o que Buda quer dizer com esse sutra é: não se apegue a grupos, não se apegue a ideologias, não se apegue a nada pré-estabelecido, apenas faça o caminho você mesmo, veja com seus próprios olhos. Não queira saber sobre a verdade, viva a verdade; não queira saber sobre o amor, seja o amor.
Busque conhecimento, emita amor, seja Luz!
Respostas de 2
Cara! Entendi que esse texto critica negativamente a “família”. Reconheço a importância de estarmos conscientes da insegurança e fragilidade da vida, estar em paz com a verdade de que tudo é passageiro, no entanto, a ideia de família é muito relativa, nos unir e viver por um tempo com nossos irmãos de alma, ajudando uns aos outros e evoluindo juntos. E quando duas pessoas têm um filho? A “família” possue sua importância. Viver só é utópico. Sem os outros como iremos reproduzir dando oportunidade para que outras almas venham aqui evoluir? Seríamos extintos. Os relacionamentos são ferramentas de evolução. O que Buda quis dizer é: esteja consciente da insegurança, instabilidade e transformação todo tempo e viva como quiser, siga sua verdade interior, siga o seu coração, o amor incondicional.
Creio que a atenção do texto nao eh para dizer que a família é boa ou ruim, mas basta observar o ser humano dentro de uma familia(esta sendo baseada na tradição de ideais éticos religiosos, filosóficos, político, etc…) o quanto ele é influenciado por ela.
A atenção se volta para o buscador espiritual, observar estas influências ( sem julgamento ) e se voltar para dentro, nesse sentido eh um abandono da família ( tradicao ) que ele Esta fortemente ligado .
A vida de um ser comum eh trabalhar, passar o dia todo em relação, chegar em casa e estar em relação com a família, e reservar um tempo para meditar, o buscador esta o tempo todo se relacionando ( se identificando ) com cada pessoa ( pensamento e ideias) o dia todo, pois ele ainda nao tem a qualidade meditativa, que eh relacionar-se sem identificação, nesse caso eh de extrema importância um distanciamento tanto interior quanto exterior para o autoconhecimento, mas isso nao significa isolamento, nao eh abandonar a sociedade ( ir para os Monte dos himalayas, mosteiros ou vender artes), mas compreender a necessidade do bombardeio de julgamentos que estamos sujeitos o dia todo, o ser humano Moderno eh diferente do antigo, hj estamos o tempo inteiro em relação, dai surge a necessidade de uma qualidade de distanciamento, mas sempre buscando o caminho do meio, nem um extremo nem outro, hj infelizmente vivemos no extremo da relação, o quanto Mais isso faz parte da nossa vida, mais o ego de identifica e tem medo de largar, pois largar significa morte para o ego.
Pf, meditemos para essa extrema necessidade do distanciomento da tradição .